A automedicação e uso indiscriminado de medicamentos são apontados como os principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação. Para alertar e conscientizar a população, 5 de maio foi estabelecido como o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. O Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS) realizou, nos últimos cinco anos (2014 a 2018), em torno de 120 mil atendimentos, sendo 36 mil (30%) envolvendo medicamentos. Os dados indicam que, de cada três casos atendidos no serviço, um envolve medicamento.
Do total de ocorrências registradas pelo CIT no período, crianças menores de seis anos ocupam a primeira posição em número de atendimentos, respondendo por cerca de 30 mil (25%). Nesta faixa etária, o pico máximo das intoxicações ocorreu em crianças de dois anos e a grande maioria foi pela ingestão acidental ou inadequada de medicamentos.
“É importante que os pais ou responsáveis adotem medidas simples de cuidados e prevenção para que ocorra uma redução do número de acidentes tóxicos com crianças”, alerta o médico toxicologista do CIT, Carlos Augusto Mello da Silva. De acordo com ele, as crianças são vulneráveis à intoxicação por medicamentos via ingestão acidental. Por segurança, eles devem estar longe do alcance das crianças e, de preferência, armazenados em locais fechados e chaveados.
Recomenda que não sejam colocados em “mesinhas de cabeceiras” ou gavetas de armários abaixo de 1,5m. Lembra também que, ao medicar uma criança, não se deve dizer que é bala ou guloseima. Destaca a importância do uso da dosagem adequada. “Uma criança não é um meio adulto. As doses pediátricas são precisas e levam em consideração aspectos como o peso. Nem todo medicamento para adultos pode ser utilizado por crianças.”
O médico orienta que, no caso de suspeita de intoxicação ou de reações adversas, o usuário deve relatar imediatamente ao profissional de saúde que lhe receitou o medicamento ou buscar orientação junto ao CIT/RS. O serviço funciona há 42 anos, 24 horas por dia, sete dias na semana. O atendimento, prestado exclusivamente por telefone pelo número 0800-7213000, é gratuito e dá as primeiras orientações.
Idosos
Os cuidados também devem ser intensificados com pessoas idosas e que já apresentam problemas de visão e de memória. O objetivo é prevenir confusões com o uso da medicação. “Uma forma de ajudar é etiquetar o medicamento com indicações de dosagem, horários de administração e modo de usar. Também é importante observar o momento em que o idoso não tem mais condições de administrar sozinho sua medicação. Nesses casos, o ideal é delegar essa tarefa para um cuidador ou familiar”, avalia o médico. Segundo ele, os casos de intoxicação entre idosos vem crescendo com o aumento da longevidade desta população.
Ele alerta que as intoxicações por medicamentos atendidas no CIT/RS incluem anticonvulsivantes, drogas de efeito no sistema nervoso central, ansiolíticos e drogas para melhorar o estado de humor. Mas também remédios mais populares, como os analgésicos.
Usar medicamento em dose superior à recomendada pelo médico ou até mesmo não prescrito aumenta as chances de reações adversas. Os efeitos no organismo podem levar à intoxicação e causar vários tipos de reações que variam de leves alergias até a morte. “Doses terapêuticas preconizadas para melhorar os sintomas são seguras. As acima da recomendação, que excedem à dose terapêutica diária, ampliam as chances de reações adversas. As muito acima do preconizado são consideradas overdose e são tóxicas ao organismo”, explica o toxicologista.
Uso Racional
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há uso racional quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses indicadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. O uso irracional ou inadequado é um dos maiores problemas em nível mundial. A OMS estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente.
Silva cita a automedicação como uma das principais causas de intoxicação ou reações adversas entre adultos. “Não devemos tomar uma medicação porque fez bem a um amigo ou a uma vizinha. A medicação é individualizada e o médico assistente considera a situação de saúde de cada pessoa, doenças preexistentes e medicamentos que o paciente já utiliza para evitar interação medicamentosa.” O toxicologista alerta que a automedicação pode também mascarar sintomas e dificultar o diagnóstico e o consequente tratamento adequado. “Doenças diferentes podem apresentar alguns sintomas similares.” Para evitar interações medicamentosas, quando realizar uma consulta, o paciente deve informar ao médico as medicações que já faz uso ou se é alérgico a algum remédio.
Chama a atenção para o descarte adequado. “O ideal é a pessoa não manter em casa sobras de remédios de uso eventual como antibióticos.” Existem bancos de medicamentos para os que estão dentro do prazo de validade. Os vencidos devem ser descartados junto a algumas farmácias ou laboratórios. Muitas farmácias e drogarias oferecem o serviço de coleta.